quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Panorama da Parte

Poema de Kerlle de Magalhães


In: Panorama da Parte, Editora Coqueiro


Eu sou poeta menor
Na maior parte que posso,
Se da parte eu fui pior
É porque o mundo nosso
Deu esta parte de nada,
Se a parte fica parada
Neste tudo que já dei
É porque meu movimento
Teve um triste provimento
Desta parte que não sei.

Pelo o nada ouço a fala,
Pelo o tudo ouço o mudo
Quando o tudo me diz nada,
Quando o nada me diz tudo.
E o tempo vem me dizendo,
Muitas vezes refazendo
Repetindo o que me diz,
Como fosse um panorama
Enviando aerograma
Sem saber o que já fiz.

Nesta estrada que padeço
Quando estou perto do fim,
Não deixa de ser começo
Em qualquer parte de mim.
Sendo a parte que me falta
De outra parte que se exalta
Sem saber qual paradeiro.
Pois vivo pra ter saudade
De qualquer parte ou metade
Sem ser parte por inteiro.

Sou mais um que nada crer
Além do amor que tem
No olhar fraterno de alguém,
Sendo o dobro do que ver.
Pois, eu sou como você
Quando chora, rir e senti
E por mais que a gente tente
Ser uma parte enganosa,
Somos parte preciosa
Doutra parte que não mente.

Sou a parte que não sei,
Sou o surreal da arte,
Sou a parte a qual faltei,
Sou a parte em toda parte
Que se parte em pedacinhos.
Sou vários pequenininhos,
Sou até o que sobrou.
E o que digo andando a esmo?
Se o que vejo de mim mesmo
É tal parte que não sou.

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