quinta-feira, 16 de junho de 2016

Sem Título II

Poema de Maria Samara


Pãoesia
poemas,
são palavras famintas.
FOME é o que está escrito nos versos da rua,
no farol dos olhos dela,
na lucidez de sua pupila.
era só um trocado de migalhas
porque não tinha mais joelhos para o chão

rezar, pelo sacrifício que carrega sob os ossos
dos braços:
uma filha;
com fome de leite,
de um punhado de terra.
muita luz nas pálpebras
uma tempestade clara de música.
será Maria o nome dela?
o que come quando não tem migalhas?
uma bituca de cigarro apagada?
são turvas as pedras,
convulsas placas confusas.
quem dera as curvas fossem o caminho
e o sol o leite derramado sobre o riso,
um raio de riso é tudo que pedia.
só ha os olhos, o fosco,
a taquicardia dos sentidos,
o sangue escorrendo pelas pernas,
na fome do poema.

era preciso que o vento derrubasse a camisa do
seu varal,
que ela encontrasse um pássaro no meio do 
caminho
para roubar suas migalhas;
um balde de tintas para pintar-se de esquecida,
a sombra de uma árvore para comer os galhos,
uma bandeira marrom para anunciar que a fome
vinha lhe beijar quatro mãos
dela e da sua filha
para lhes servir com a morte,
o mistério do pão.

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