quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Severina Branca

Mote de Severina Branca e Glosa de Zeto do Pajeú


Sou da casa em que de madrugada
A criança acalenta-se ao cio
E faz sombra com a luz de um pavio
Que tem fogo amarelo igual espada
A mulher nua e fria está deitada
Ao seu lado um parceiro de aventuras
Que lhe mente a tentar fazer ternuras
Traz na bota dinheiro escondido
Que o silêncio da noite é que tem sido
Testemunha das minhas amarguras

Geralmente depois das oito horas
Tomo banho me arrumo no meu quarto
Para o salão toda enfeitada toda parto
Pra aceitar uns convites, e outros foras.
A cachaça e o fumo são escoras
Dando ao corpo alegrias e torturas
E as doses que eu tomo são tão puras
Que o ambiente se torna colorido
Que o silêncio da noite é que tem sido
Testemunha das minhas amarguras

O pecado pra mim é testemunha
Pois ladeia o meu peito o tempo inteiro
Do primeiro ao último parceiro
Dou um nome diferente, faço alcunha.
O vermelho é perene em minha unha
Meu trabalho é melhor sendo às escuras
Sou alguém que procura umas procuras
Que navegam no rio do gemido
Que o silêncio da noite é que tem sido
Testemunha das minhas amarguras.

Mas às vezes pra cama eu vou sozinha
Procurei muitos homens não achei
E aquele que eu mais acreditei
Deu-me um “seixo” e eu paguei o quarto à Dinha
Eu já sei que é tardia a ladainha
Parecido com um pingo em pedras duras
Sou irmã, pois, do canto das loucuras
E o meu peito é acorde do alarido
Que o silêncio da noite é que tem sido
Testemunha das minhas amarguras.

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