sábado, 28 de outubro de 2017

Brasí de Baxo e Brasí de Cima

Poema de Patativa do Assaré


Meu compadre Zé Fulô,
Meu amigo e companhêro,
Faz quage um ano que eu tô
Neste Rio de Janêro;
Eu saí do Carirí
Maginando que isto aqui
Era uma terra de sorte,
Mas fique sabendo tu
Que a misera aqui no Sú
É esta mesma do Norte.

Tudo o que procuro acho.
Eu pude vê neste crima,
Que tem o Brasí de Baxo
E tem o Brasí de Cima.
Brasí de baxo, coitado!
É um pobre abandonado;
O de Cima tem cartaz,
Um do ôtro é bem deferente:
Brasí de Cima é pra frente,
Brasí de Baxo é pra trás.

Aqui no Brasí de Cima,
Não há dô nem indigença,
Reina o mais soave crima
De riqueza e de opulença;
Só se fala de progresso,
Riqueza e novo processo
De grandeza e produção.
Porém, no Brasí de Baxo
Sofre a fême e sofre o macho
A mais dura privação.

O Brasí de cima festeja
Com orquestra e com banquete,
De uísque dréa e cerveja
Não tem quem conte os rodete.
Brasí de baxo, coitado!
Vê das casa despejado
Home, menino e muié
Sem achá onde morá
Proque não pode pagá
O dinhêro do alugué.

No Brasí de Cima anda
As trombeta em arto som
Ispaiando as propaganda
De tudo aquilo que é bom.
No Brasí de Baxo a fome
Matrata, fere e consome
Sem ninguém lhe defendê;
O desgraçado operaro
Ganha um pequeno salaro
Que não dá pra vivê.

Inquanto o Brasí de cima
Fala de transformação,
Indústra, matéra-prima,
Descoberta e invenção,
No Brasí de Baxo isiste
O drama penoso e triste
Da negra necissidade;
É uma cousa sem jeito
E o povo não tem dereito
Nem de dizê a verdade.

No Brasí de Baxo eu vejo
Nas ponta das pobre rua
O descontente cortejo
De criança quage nua.
Vai um grupo de garoto
Faminto, doente e roto
Mode caçá o que cumê
Onde os carro põem o lixo,
Como se eles fosse bicho
Sem direito de vivê.

Estas pequena pessoa,
Estes fio do abandono,
Que veve vagando à toa
Como objeto sem dono,
De manêra que horroriza,
Deitado pela marquiza,
Dromindo aqui e aculá
No mais penoso relaxo,
É deste Brasí de Baxo
A crasse dos marginá.

Meu Brasi de Baxo, amigo,
Pra onde é que você vai?
Nesta vida de mendigo
Que não tem mãe nem tem pai?
Não se afrija, nem se afobe,
O que com o tempo sobe,
O tempo mesmo derruba;
Tarvez ainda aoconteça
Que o Brasí de Cima desça
E o Brasí de Baxo suba.

Sofre o povo privação
Mas não pode recramá,
Ispondo suas razão
Nas colunas do jorná.
Mas, tudo na vida passa,
Antes que a grande desgraça
Deste povo que padece
Se istenda, cresça e redobre,
O Brasí de Baxo sobe
E o Brasí de Cima desce.

Brasí de Baxo subindo,
Vai havê transformação
Para os que veve sintindo
Abandono e sujeição.
Se acaba a dura sentença
E a liberdade de imprensa
Vai sê lega e comum,
Em vez deste grande apuro,
Todos vão tê no futuro
Um Brasí de cada um.

Brasí de paz e prazê,
De riqueza todo cheio,
Mas, que o dono do podê
Respeite o dereito aleio.
Um grande e rico país
Muito ditoso e feliz,
Um Brasí dos brasilêro,
Um Brasí de cada quá,
Um Brasí nacioná
Sem monopólo estrangêro.

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