segunda-feira, 12 de março de 2018

Torança

Poema de Jonatas Onofre


a visão das pipas no céu da
Guabiraba, 
a degola, 
cerol e buruçu nas nuvens
aqui
as formas lívidas da morte
são de seda,
o céu tem em suas beiras as
rabiolas, as rajadas
de bala, as bandeiras rubras
e negras
e tudo o que rodeia o resto da cidade,
céu dos céus, ou espelhos vazios
desse outro céu
da Guabiraba,
céu dos céus
e a torança separando cabeças para
sempre,
cabeças rolando pelos morros,
cada morro uma mão fisgando os ventos,
fazendo figas para os ventos
e com eles as muitas mortes de
amanhã,
a visão das cabeças no céu
da Guabiraba,
cerol e buruçu nas bordas de um sol,
e sangrando sem pressa:
esse mesmo sol,
aquelas gargantas sem boca que as
mereça

Nenhum comentário :

Postar um comentário